Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos
"É uma quantidade de desilusão ..." que sem dúvida me invade... De Que?? de tudo aquilo que me rodeia... De Quem?? de todos os egoístas, de todas a "cópias iguais"...
E no fundo apenas peço coisas simples, e falar para que? já tantas vezes foi dito... é assim tão difícil utilizar a mente? Apenas peço coisas simples, coisas que me enchem... coisas que perdi e tenho saudade. Saudade já tanta vez descrita, de um sabor, de um gosto inigualável, mas que talvez seja melhor esquecer... pois a vontade de o fazer não é tão grande como a vontade de o receber, pois se fosse, se fosse já tinha sido feita... desilusão... interiormente desiludida, e sem coragem para falar.